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Momentos inesquecíveis da Era Love Yourself

Camila Monteiro

11/04/2019 18h35

Se ontem eu vim aqui mostrar os meus álbuns da Era Love Yourself, hoje eu trago os momentos que considero mais interessantes nesse importante período de transição de BTS. Para os orfãos de Wings, considerado por muitos o auge da carreira do grupo, Love Yourself é um downgrade, uma era pouco criativa e inspirada. Ainda bem que eu não sou essa pessoa, pois apesar de apreciar a riqueza – financeira principalmente – de Wings, considero Love Yourself um período crucial para entender os valores que Bangtan carrega consigo. Não somente pela clara mensagem de amor próprio, mas a forma como tudo foi detalhadamente pensado e incrivelmente bem dirigido. Começar com Serendipity e DNA, passar por Singularity e Fake Love e culminar com Epiphany, Idol e I'm fine nos mostrou altos e baixos, diferentes tipos de amor – próprio, com o outro, pela vida – depois de "Let me love you" (Serendipity) e "I buried my voice for you" (Singularity) tivemos como desfecho Jin nos ensinando que "I'm the one I should love in this world" (Epiphany). E em meio a performances icônicas, MVs extremamente bem produzidos e letras tocantes, BTS nos mostrou que esse caminho não tem uma única solução, não é simples e é uma caminhada de evolução constante. Ter eles ao nosso lado é o diferencial.

São tantas as qualidades dessa fase do grupo que eu resolvi separar alguns dos meus favoritos:

  • Os Solos

Não só no kpop, mas na realidade boybands e girlbands, sempre existiram membros que se destacam mais do que os outros, seja porque são vocalistas principais, porque a gravadora tem preferências (olá justin timberlake) ou por questões artísticas. No entanto uma das qualidades que BTS possui é dar espaço para todos os membros brilharem – esse é o momento que solo stans berram dizendo que não é verdade e eu finjo que não li – e podemos ver isso nos excelentes solos que cada membro nos entrega. Se a Era Wings nos surpreendeu com cada membro tendo seu solo, a Era LY consolidou essa ideia: Jimin teve Serendipity, Jungkook teve Euphoria, Taehyung teve Singularity, Jin teve Epiphany, Namjoon teve Love, Hoseok teve Just Dance e Yoongi Seesaw. Todas as canções são muito diferentes umas das outras, seja no arranjo e produção, na composição da letra – algumas se conectam mas cada uma se sustenta sozinha – na coreografia, cada solo nos faz entender perfeitamente o sucesso de BTS.

Abaixo coloquei todos os vídeos na ordem em que eles foram lançados. Os três últimos não são videoclipes pois não são introduções e sim trivias (Just Dance, Love e Seesaw):

Jimin em Serendipity (Her)

Destaques: Jimin sendo Mochi, fofo e dizendo que é a nossa penicilina (uma cafonagem culta do bem), ele interagindo com um gato, as cores, principalmente a utilização do amarelo, o arranjo. Se Jimin pede pra nos amar a gente só agradece e aceita esse amor (full length edition).

Jungkook em Euphoria (Wonder mas saiu no álbum Answer)

Destaques: o fato de a música ter finalmente saído em um disco (Euphoria foi lançada no meio do caminho e não tava em nenhum álbum/plataforma até chegar o Answer) e Jungkook ao vivo alcançando a belíssima nota final.

Taehyung (V) em Singularity (Tear)

Destaque: (queria colocar TUDO mas terei bom senso) o fato de Namjoon ter escrito em 3 horas é impressionante, a letra é extremamente triste e tocante, a voz do Tae toca a nossa alma, a coreografia que parece não combinar com a música mas funciona perfeitamente, o tom do clipe todo, as cores, a cenografia, a máscara, o brinco LOVED, a música ser uma ode ao D`Angelo, um r&b sofisticadíssimo, I buried myself demais aqui.

Jin em Epiphany (Answer)

Destaques: a voz do Jin que evoluiu demais e aqui tá no seu auge, o clipe que começa preto e branco e vai mudando de tom conforme a narrativa se modifica, as relações com o UB (Universo Bangtan), a música ser um britpop da melhor qualidade, a letra nos mostrando que não somos perfeitos mas devemos nos amar, a pausa na chuva com a música tocando de fundo num noventismo ímpar, o instrumental, Kim Seokjin.

Hoseok (J-Hope) em Just Dance (Answer)

Destaques: a coreografia, o fato de parecer uma faixa de Hope World porém num álbum de Bangtan, Hobi ser dono do palco toda vez que ele pisa num, o drop da música que parece que vai pra uma direção e nos leva pra outra completamente oposta, o refrão catchy I REALLY WANNA WANNA WANNA JUST DAAANCE.

Namjoon (RM) em Love (Answer)

Destaques: Namjoon não só fazendo rap mas também cantando, a maestria que ele tem com as palavras, uma música simples que brinca com a fonética da palavra amor em coreano (Namjoon faz isso com frequência) e fala sobre se amar e amar a vida, a performance simples, sem coreografia mas que faz todo sentido com a música (e no show todos os membros entram no fim da música para cantar com ele antes do medley), I live so I love.

Yoongi (Suga) em Seesaw (Answer)

Destaques: Seesaw tem uma das melhores letras que Yoongi já fez e ele já fez muita música boa. O fato de ele cantar é incrível por si só pois ele sempre é o rapper cujos flows são rápidos e a letra dói; aqui a letra segue tocando nas nossas feridas mas de uma forma mais terna. A música faz a gente se sentir mesmo numa gangorra de sensações. A performance ao vivo com ele dançando é a cereja no bolo de Seesaw, um indie pop que se não fosse em coreano seria enaltecido por meio mundo e ganharia vários prêmios.

  • MMA (Melon Music Awards) 2018

BTS é um grupo conhecido pelas performances ao vivo icônicas, seja pela dança, pelas introduções, medleys e teorias mil – o grupo sempre dá pistas de projetos futuros nessas premiações – e geralmente esperamos ansiosamente pelas performances do MAMA Awards, o maior prêmio de música pop asiática que ocorre na Coréia, no Japão e na China em um espaço de poucos dias. O que a gente não esperava é que o MMA, Melon Music Awards, nos entregaria uma das melhores performances da carreira do grupo. Hoseok, Jimin e Jungkook nos mostrando danças típicas coreanas – nada jamais vai superar o Jimin em meio aos leques – na introdução de Idol combinados com os músicos e dançarinos tocando instrumentos antigos e praticamente dançando a história da Coreia diante dos nossos olhos, tivemos os sete membros numa versão diferente de Idol, ainda mais coreana, mostrando que as críticas de "americanização" ao grupo não fazem o menor sentido. Eu perdi as contas de quantas vezes eu dei play no vídeo abaixo.

  • Comeback no Billboard Music Awards (BBMAs 2018)

No kpop o valor do comeback é enorme pois é quando finalmente os nossos grupos preferidos retornam com material novo. E existe toda uma estrutura do comeback na Coréia: programas de tv, apresentações elaboradas, semanas de divulgação. É o ciclo natural do comeback. No entanto BTS ano passado presentou os fãs com um retorno em uma das maiores premiações da música, o Billboard Music Awards. Apesar de os câmeras terem feito um trabalho que deixou muito a desejar – estamos acostumados com ângulos perfeitos, zooms corretos e cenografia impecável nos programas coreanos – foi um grande passo para a carreira do grupo lançar Fake Love em um evento do tamanho que é o BBMAs. Esse ano, pela primeira vez, BTS tá concorrendo a um prêmio de música (melhor duo/grupo) no evento e não social media (que eles já venceram 2x) e há boatos fortes que eles vão se apresentar. Vamos acompanhar…

  • Discurso do Namjoon na ONU

É impossível falar da era Love Yourself sem citar o já famoso e importante discurso de Kim Namjoon na ONU. Na fala tocante do líder de Bangtan, ele contou um pouco da sua história como um menino em Ilsan (cidade que nasceu), separou Namjoon, criança que cresceu na Coréia de RM, idol e líder da maior boyband do mundo atualmente (ode a Jung e Persona bem aqui). Ele tocou em problemas sérios que afetam a geração atual, pediu para as pessoas, independente de gênero e cor, se aceitarem e falarem, sempre usando a suas vozes, Speak Yourself (nome da nova tour deles que começa agora em maio de 2019). O discurso foi tocante o suficiente mas é ainda mais interessante ver os bastidores dele treinando, decorando, nervoso, com os outros membros na volta dando suporte e questionando. Ali vemos a dinâmica de Bangtan e conseguimos compreender como o relacionamento deles é peça fundamental para o sucesso enorme que eles possuem.

  • Grammys 2019

Ninguém esperava que isso fosse acontecer em 2019, e honestamente, como vimos no Bangtan Bomb (vídeos de bastidores do grupo postados no canal oficial deles), nem eles esperavam ir. Ao que tudo indica foi um convite de última hora mas não menos importante e certamente trouxe momentos marcantes tanto para eles quanto para os fãs – e pra H.E.R também – que no dia do evento esperaram ansiosamente eles apresentarem a categoria melhor álbum r&b (não sei até agora se eles apresentaram esse prêmio por serem fãs da vencedora, H.E.R, ou por ser no fim, prendendo a audiência army a ajudar nos números finais). Love Yourself: Tear concorrer ao grammy de melhor design, criado pelo grupo HuskyFox mas quem levou o prêmio foi St. Vincent (também merecido pois Masseduction tem um design incrível). Mas isso não importou pois BTS se divertiu demais e viralizou cantando Jolene da Dolly Parton, que no dia seguinte postou sobre em suas redes sociais. H.E.R. vencedora do prêmio que o grupo entregou recentemente deu uma entrevista dizendo que ter recebido o prêmio de BTS deixou o momento ainda mais especial, principalmente pois eles disseminam a música dela por aí (ela é figura frequente nas indicações deles). O impacto BTS.

Taehyung, Yoongi, Jin, Jungkook, Namjoon, Jimin and Hoseok no Grammy (reprodução/Twitter)

BTS entregando o Grammy para H.E.R (reprodução/Grammys)

 

  • Saúde Mental & Mensagem

Finalmente o que considero o ponto mais importante dessa Era Love Yourself, é o impacto que teve na vida não somente dos fãs do grupo como pras pessoas novas que estavam descobrindo eles. Vivemos em um momento muito complicado em todos os lugares do mundo, o Zeitgeist envolve muito ódio, tensões políticas, preconceitos de todos os tipos e um cansaço generalizado que parece ter deixado sociedades em estado quase letárgico. E ver uma banda da Coréia, que começou do nada, em uma empresa pequena – não mais -, que sofreu e ainda sofre nas mãos da indústria da música que por vezes é cruel e extremamente xenofóbica fazendo músicas que falam sobre ansiedade, depressão, angústias e amor próprio é um alento, um refúgio para todos nós. O fato de os membros da banda falarem abertamente sobre isso, das dificuldades que eles sofreram, da importância de pedir ajuda, de se abrir e conversar com alguém, tudo isso tem um valor muito grande pois literalmente salva vidas. Como o pop e mais ainda o kpop sofrem muitos estigmas, as pessoas não acreditam no impacto que a música pode ter na vida de alguém, tudo parece bobo e é reduzido a um fanatismo representado por meninas berrando e correndo atrás de seus ídolos. E isso não poderia ser mais distante da verdade. Quando me tornei fã de BTS lembro de ter lido em algum lugar que o grupo sempre entra na vida da pessoa na hora que ela mais precisa. Na época eu ri, achei dramático, meio over, nada a ver, cafona. Hoje eu me dou conta que sim, eles entraram na minha vida quando eu tava precisando e desde então eu sou muito grata a tudo que aprendi e sigo aprendendo, pessoas que conheci, interesses que criei e palavras que escrevi por causa deles.

Sobre a autora

Camila Monteiro é jornalista e estudante de doutorado em música, mídia e fandoms. Ama cultura pop e é muito fã de Bangtan. Sua vida se divide em antes e depois que ela viu Park Jimin na sua frente.

Sobre o blog

Nesse espaço discutiremos o Universo Kpopper: fandoms, bandas, debuts, disbands, MVs, álbuns, tours, coreografias, Coréia e tudo que o K-Pop nos oferece. Entre visuals, rappers e vocalistas, ultimates e bias wrecker estabelecido(a)s, vamos refletir sobre as diferentes gerações do pop coreano, a influência na moda, beleza, cultura e como o K-pop muda a vida das pessoas.

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