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IU mostra seu talento como atriz em Persona, nova série original da Netflix

Camila Monteiro

30/04/2019 17h19

Com o término de Romance is a bonus book (aqui eu conto 5 razões para você assistir esse ótimo dorama) eu fiquei zapeando pelas inúmeras opções da Netflix até chegar em Persona, micro série original com apenas quatro episódios. O fato de ser pequena e cada episódio ter em média 20 minutos de duração me fez dar o play, mas o que me chamou atenção foi a combinação IU + Persona. Persona por ser também o título do álbum recém lançado de BTS (Map of The Soul: Persona) e IU, por ser uma das cantoras de k-pop mais famosas da Coréia, e perceber que ela já há algum tempo vem tentando expandir sua carreira de forma mais adulta.

(reprodução/Netflix)

IU é extremamente famosa na Coréia e eu diria que ela é vista como uma espécie de Sandy coreana. Muito famosa desde cedo, ela construiu uma carreira de sucesso, com vários hits nacionais, e sempre com a imagem de "namoradinha" do país. Com o passar do tempo a cantora começou a atuar, fez doramas de sucesso (The Producers, My Mister) e agora em Persona, vai mais além, interpretando 4 diferentes personagens, uma em cada curta/episódio.

  • Jogo do amor

No episódio que abre Persona, vemos IU e Bae Doona (conhecida por Sense8, Cloud Atlas e atualmente por Kingdom, também da Netflix) em uma partida de tênis. Ambas inclusive usam o próprio nome no episódio, o que achei interessante. Aqui já percebemos um tom Black Mirror em Persona pois não sabemos muito bem o que vai acontecer, se estamos diante de um thriller, de um romance ou até mesmo de uma comédia. A premissa é simples: IU não gosta de Bae Doona, namorada do seu pai e a desafia a uma partida de tênis: se ela ganhar Bae Doona sai de cena, se perder quem sai de cena é ela. O resultado aqui é, honestamente, desimportante. O jogo entre as duas, os closes, o suor, o sangue, o zoom no corpo e nela comendo uma fruta em meio aos gritos de cada jogada; a sexualização misturada com a estrenheza de todo tom do episódio marcam Jogo do amor. A forma abrupta como termina é claramente proposital e dá o tom do projeto.

IU no primeiro episódio, Jogo do amor (reprodução/Netflix)

  • Conquistadora

O segundo episódio de Persona é o meu favorito por duas razões: surrealismo e diálogos ótimos. IU interpreta uma professora de yoga jovem que se envolve com um homem mais velho que aparentemente largou sua mulher para ficar com ela. A história podia ser manjada e resumindo assim parece datada mas a forma como o episódio é conduzido, dirigido e escrito me remeteu a Under The Skin, excelente filme com Scarlett Johansson e dirigido por Jonathan Glazer. Ao ouvir sobre viagem recente que a personagem de IU fez com amigos do Yoga, o parceiro dela começa a ficar com muito ciúmes e esse sentimento é representado por uma espécie de alter-ego, em um ambiente diferente com cenas descontruídas, cabeças cortadas, objetos bizarros e surrealismo. É a abstração ganhando forma. O episódio vai criando uma atmosfera tensa que trabalha em cima da mitologia coreana em forma de Kumiho, a raposa de nove caudas que se transforma em diversas coisas, entre elas uma bela moça (IU), para seduzir os homens e comer o seu fígado ou coração. A maneira como isso acontece em meio a diálogos interessantes sobre gênero traz assuntos importantes que são pouco abordados em doramas coreanos e aqui viram assuntos centrais em forma de alegoria. É o episódio mais Black Mirror dos quatro.

IU em Conquistadora, segundo episódio de Persona (reprodução/Netflix)

  • Será que beijar é crime?

O terceiro episódio foi certamente a razão pela qual o lançamento da série foi adiado. Persona incialmente seria lançada dia 5 de abril e acabou estreando dia 12. O motivo? O incêndio que afetou centenas de pessoas na Coréia que tiveram que desocupar suas casas e perderam tudo. Com o título original de Kiss Burn, esse episódio traz IU como uma estudante que vai visitar uma amiga que mora na zona rural. Infelizmente essa amiga possui um pai horrível que nitidamente abusa dela, e ambas tentam "se livrar" dele. Depois de um episódio surrealista, aqui temos uma Coréia pé no chão, uma realidade pouco vista e cada vez mais trabalhada no cinema – lembrei muito do excelente filme Burning, também coreano, que trabalha com questões parecidas sobre queimadas, vidas esquecidas e dificuldades fora dos grandes centros urbanos – mostrando de forma bucólica a realidade de quem vive pra fora. O fim do episódio é genial e tragicômico, nos dando outra camada de sentimentos ainda não explorados anteriormente pela série.

Será que beijar é crime? penúltimo episódio da série (reprodução/Netflix)

  • Andando à noite

O episódio que fecha Persona é o único em preto e branco e o que trabalha de forma mais direta com um dos maiores problemas que a sociedade coreana enfrenta: o suicídio. Nele, temos IU e seu ex-namorado andando pelas ruas, porém não é tão simples: IU está morta – ela se suicidou – e voltou em um sonho para ter essa última noite de interação com seu ex. A premissa parece bizarra – e levemente é – mas na prática o episódio funciona muitíssimo bem. Eu fiquei com uma sensação de estar vendo um crossover da trilogia Antes do Amanhecer/Pôr-do-sol/Meia-noite com Black Mirror. Esse resgate de sentimentos, da personagem voltar para relembrar momentos importantes, o choro do ex – que não chorou no enterro dela -, essas memórias, palavras não ditas, sutilezas, combinadas com uma trilha sonora ótima marcam o episódio que mais exigiu de IU como atriz e ela entregou muito bem de forma melancólica e terna.

IU em preto e branco no último episódio, Andando à noite (reprodução/Netflix)

Não é necessário assistir todos os episódios pois não existe nenhuma conexão (e todos tiveram diretores diferentes) mas por serem episódios curtos, vale a pena sentar e ver tudo de uma vez. Persona é muito diferente dos doramas coreanos que estamos acostumados, trabalha de forma mais artística e profunda sobre temas importantes que são considerados tabus pela conservadora sociedade coreana e é muito bom ver alguém com o nível de fama e visibilidade de IU escolhendo projetos assim.

Sobre a autora

Camila Monteiro é jornalista e estudante de doutorado em música, mídia e fandoms. Ama cultura pop e é muito fã de Bangtan. Sua vida se divide em antes e depois que ela viu Park Jimin na sua frente.

Sobre o blog

Nesse espaço discutiremos o Universo Kpopper: fandoms, bandas, debuts, disbands, MVs, álbuns, tours, coreografias, Coréia e tudo que o K-Pop nos oferece. Entre visuals, rappers e vocalistas, ultimates e bias wrecker estabelecido(a)s, vamos refletir sobre as diferentes gerações do pop coreano, a influência na moda, beleza, cultura e como o K-pop muda a vida das pessoas.

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