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K-Dramas: 5 motivos para assistir Romance is a Bonus Book

Camila Monteiro

15/04/2019 19h14

Eunho e Dani em cena de Romance is a Bonus Book (reprodução/Netflix)

Logo que eu adentrei o universo dos doramas (novelas) coreanos eu sofri do mal de "pessoa que tá sem saco de ficar 1 hora vendo um episódio" e portanto, foi mais penoso do que eu imaginava acabar qualquer um dos que eu havia escolhido. Acostumada atualmente a ver séries curtas com meia hora de duração (Russian Doll, saiba que eu te amo), sentar diante da TV para assistir 16 episódios com mais de uma hora cada é uma tarefa mais complicada do que parece, principalmente se a história não me conquista logo de cara. E os doramas coreanos possuem em sua grande maioria esse mesmo número de episódios e duração, portanto pular de um para o outro não é uma boa ideia, pois acabamos começando vários diferentes sem acabar nenhum (sou campeã de fazer isso). No entanto Romance is a bonus book quebrou essa maldição dentro da minha casa e não só me fez assistir 9 – sim nove horas vendo dorama – episódios em um dia como me fez espalhar meu amor por essa série tão bem produzida e principalmente escrita.

Um dos motivos de eu ter começado a ver dorama foi porque eu queria ver romances despretensiosos e leves e ao abrir o Netflix me deparei com um leque de opções maior do que eu imaginava, o que pode ser meio assustador de início. São muitas opções e a disseminação de novelas coreanas para o mundo teve um crescimento considerável nos últimos anos, principalmente com o envolvimento da própria Netflix nas produções. Eu já tinha passado por Romance is a bonus book algumas vezes nas indicações mas foi depois que uma amiga me disse para ver que eu finalmente resolvi dar uma chance a série. Duas coisas me convenceram a dar o play: a protagonista é uma mulher mais velha (com quase 40 anos) e se passa em uma editora de livros. A série mostra a história de Eunho e Dani (interpretados por Lee Jong-suk e Lee Na-Young respectivamente), amigos que se conheceram ainda crianças quando ela salva ele de um acidente. Já adultos, Eunho é um escritor e editor de sucesso e Dani está na pior: recém divorciada, cheia de contas para pagar e desempregada. Sem perspectiva e preocupada, Dani sofre preconceito por ser mais velha e ter ficado fora do mercado para cuidar de sua filha – que mal aparece, mas é um bom plot device – até que ela finalmente consegue um emprego, como assistente na editora em que Eunho trabalha. Como vocês já devem ter percebido, sim eles são o casal protagonista, ele é mais novo que ela e completamente apaixonado por Dani. E não isso não é spoiler pois desde o início isso fica estabelecido. O interessante do enredo é realmente ver como essa história se desenvolve, as pessoas que entram na vida de ambos, como eles lidam com sentimentos e trabalho, tudo isso com doses de humor – que eu acho dispensáveis mas aqui não me incomodou tanto -, alguns mistérios e muitos restaurantes que eu gostaria de ir e casacos que eu gostaria de ter. E os livros são também personagens, com quotes e poemas que deixam o roteiro terno e sensível.

Se isso não é o suficiente para fazer você se interessar, deixo aqui 5 razões para Romance is a bonus book ser um dos melhores doramas que eu já vi:

  • Roteiro

Sem dúvidas o que me fez sentar por mais de 9 horas na frente da tv para assistir essa série foi a inteligência e sensibilidade do roteiro. Escrito por Jung Hyun-jung, notamos rapidamente que a história é contada por uma mulher. É bastante comum nos dramas coreanos, assim como em novelas brasileiras, uma chuva de preconceito e estereótipos nos diálogos dos personagens, principalmente quando lidamos com a sociedade coreana que é bastante conservadora. Aqui isso muda de configuração; primeiro temos um romance entre uma mulher mais velha e seu amigo 5 anos mais jovem. Além disso as personagens femininas não ficam brigando por homem – o que eu temia que acontecesse pois é recorrente em doramas – e os diálogos entre elas é bastante atual e genuinamente bom. Além disso a série tem várias mulheres que trabalham na editora e em posições importantes. Isso por si só é uma evolução. A forma como a roteirista insere o valor dos livros, da palavra, das histórias na vida não só dos personagens, mas principalmente na nossa é sem dúvidas a maior qualidade de Romance is a bonus book. 

Kang Dani na editora (reprodução/tumblr)

  • Locações

Em todo episódio existe ao menos um restaurante, café ou parque que nos deixa com vontade de pegar um avião e ir pra Coréia. A história se passa muito dentro da própria editora, que é um prédio dos sonhos que realmente só existe no campo da ficção; já visitei algumas editoras e posso garantir que nenhuma delas se parece com a da série. De qualquer jeito, as filmagens dentro da editora nos fazem querer trabalhar em uma. Os restaurantes e cafés que eles frequentam idem, o que nos diz um pouco sobre a própria cultura dos coreanos de fazer desses lugares, locais para refeições, reuniões e descanso. As cenas externas também foram filmadas em locais extremamente bonitos que dão vontade de procurar no google para visitiar um dia. Porém nenhum lugar é mais desejado que o corpo de Eunho a casa de Eunho. Como a série se passa boa parte dentro dela, mostrando o desenvolvimento da relação dos protagonistas, o local foi muito bem pensado e faz a gente querer morar lá, ou ao menos ter uma luminária vermelha igual a dele.

Eunho e Dani na casa dele (reprodução/TVN)

  • Personagens secundários ótimos

Um dos grandes problemas que eu tenho com doramas é o fato de eu achar os personagens secundários geralmente insuportáveis, caricatos e plot device preguiçoso para gerar conflito com os protagonistas. Um dos meus medos ao começar Romance is a bonus book era que isso fosse acontecer depois de eu já estar envolvida emocionalmente com a história, mas graças ao bom senso dos envolvidos – obrigada roteirista e atores – os personagens secundários são ótimos. Principalmente Haerin e Seojoon que seriam os outros interesses românticos dos protagonistas mas acabam sendo amigos e contrapontos interessantes para a história se desenvolver. A química dos atores é essencial para isso fluir e todo elenco têm de sobra. Os diretores da editora também são bons e geram momentos cômicos que eu não tive (tanta) vergonha alheia. Salvo alguns momentos desnecessários, a participação de todos é bem vinda e a gente se interessa de verdade por eles.

Seojoon e Haerin (reprodução/TVN)

  • Casacos

Eu gostaria de fazer uma galeria com todos os casacos que Eunho usou durante os 16 episódios do drama mas depois de perceber que ele usou 7 casacos diferentes em apenas 3 episódios eu resolvi apenas enaltecer a figurinista e colocar uma imagem do personagem com um dos seus 84 mil casacos. E não é só o personagem dele que é abençoado pelo Deus dos Casacos, basicamente todos os personagens usam casacos de causar inveja a qualquer pessoa que mora num lugar frio e precisa de casaco praticamente todo dia (no caso, eu). Infelizmente depois de uma pesquisa rápida fui informada que os casacos são de grifes e portanto fora do budget de pessoas normais (e provavelmente de editores de livros como Eunho, mas a gente finge que acredita).

Eunho e Dani (reprodução/TVN)

  • Trilha sonora

Quem assiste doramas sabe da importância da trilha sonora, não somente por ditar os momentos – por vezes cafonas – mas principalmente porque geralmente possui músicas gravadas pelos nossos idols preferidos. Na maioria das vezes eu acho as trilhas meio antiquadas e marcadas por baladas parecidas que embalam o romance dos protagonistas. Aqui isso mudou bastante de configuração pois a trilha tem diversas músicas meio indiepop coreano, tanto na versão original quanto na instrumental, onipresentes durante os 16 episódios. Só de lembrar da canção "You're beautiful" eu sinto uma leve vontade de chorar ao lembrar da série. O poder da música.

BÔNUS (pra combinar com o título):

  • Eunho/Lee Jong-Suk

Impossível listar razões para assistir esse belíssimo dorama sem falar dele, Eunho, interpretado por Lee Jong-Suk. Eu tive certeza que a série tinha sido escrita por uma mulher pelo simples fato de um personagem como Cha Eunho existir. Atencioso, amigo, leitor voraz, editor de sucesso, dono de um guarda-roupa impecável, ótimo cozinheiro, irônico, com um sorriso que desmonta qualquer pessoa, disposto a faxinar a casa e ser ridículo e ainda por cima ter o dom de falar as coisas certas com palavras bonitas que fazem a gente chorar no fim de praticamente todos os episódios. E Eunho só é esse grande sucesso pois Lee Jong-Suk é um excelente ator. Eu nunca tinha visto nada com ele e fiquei triste ao ler que logo após as gravações de Romance is a bonus book ele foi servir (na Coréia todos os homens são obrigados a servir ao Exército). Me resta pesquisar o catálogo dele e ver tudo que ele já fez anteriormente pois acabei o dorama consideravelmente encantada por ele.

Acabei de escrever esse texto já com vontade de rever esse drama que aqueceu meu coração. Além de mostrar uma mulher mais velha entrando no mercado de trabalho depois de um tempo afastada (Lee Na-Young voltou aos doramas depois de 9 anos, o que combinou bem com a personagem), os diálogos entre o casal protagonista e o relacionamento entre os personagens secundários transformaram Romance is a bonus book numa série que mexe com os nossos afetos, a nossa relação com livros, fiçcão, personagens e nos faz refletir sobre as nossas histórias: quem conta, quem lê, quem virou página passada e quem volta para reescrever novos capítulos na nossa vida.

Ah.. sempre bom lembrar que "A lua é linda".

 

 

 

Sobre a autora

Camila Monteiro é jornalista e estudante de doutorado em música, mídia e fandoms. Ama cultura pop e é muito fã de Bangtan. Sua vida se divide em antes e depois que ela viu Park Jimin na sua frente.

Sobre o blog

Nesse espaço discutiremos o Universo Kpopper: fandoms, bandas, debuts, disbands, MVs, álbuns, tours, coreografias, Coréia e tudo que o K-Pop nos oferece. Entre visuals, rappers e vocalistas, ultimates e bias wrecker estabelecido(a)s, vamos refletir sobre as diferentes gerações do pop coreano, a influência na moda, beleza, cultura e como o K-pop muda a vida das pessoas.

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