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K-Pop 101: expressões que ajudam a entender o pop coreano

Camila Monteiro

19/03/2019 11h07

BLACKPINK fazendo o coração coreano/saranghae (reprodução/instagram @blackpinkofficial)

Logo que adentramos o universo k-pop tudo parece muito confuso principalmente pela nossa falta de contexto cultural que resulta num estranhamento referente a língua, costumes, número de pessoas nos grupos e aparência. É um oceano de conteúdo que pode ser meio assustador no início mas que rapidamente a gente se acostuma e entende (ou não).  Como a linguagem é a base para compreender o que estamos acompanhando resolvi fazer um guia de expressões do k-pop que considero essenciais para um maior entendimento do gênero (seria k-pop de fato um gênero? Essa discussão fica para depois).  A seguir temos expressões coreanas (não só do k-pop), explicação de como funcionam as empresas de música, programas e gírias:

Hallyu: É a "Onda Coreana", o crescimento na popularidade da Coréia do Sul desde os anos 90 principalmente por causa de k-dramas (novelas coreanas) e k-pop. É muito comum ouvir a expressão "Hallyu Wave" para justificar o boom do k-pop nos últimos anos.

Big 3: Existem 3 empresas que sempre foram consideradas as mais importantes do k-pop e elas são: SM, YG e JYP. A grande maioria dos grupos que conhecemos saíram de uma dessas empresas que costumavam monopolizar a indústria até pouco tempo. Isso mudou com BTS e Big Hit, que atualmente lucra mais que YG e JYP. A SM é casa de grupos como Girls Generation, Superjunior, SHINee, Red Velvet, EXO e NCT. A JYP tem Twice, GOT7, Stray Kids e a YG conta com BLACKPINK, Big Bang, iKON, Winner, entre outros.

Trainee: Todo idol é trainee antes de entrar em um grupo. É uma espécie de curso pré-vestibular dos idols; o período em que eles fazem aulas de dança, canto, atuação e se preparam para um possível debut. Alguns idols viram trainees desde muito cedo (G-Dragon da Big Bang foi trainee por 11 anos) e outros debutam logo que entram na empresa (Jimin ficou menos de 2 anos como trainee antes de debutar em BTS).

Lines (vocal/rap/visual/performance & age): Os grupos são geralmente separados por linhas, a principal delas é a de idade pois estabelece o funcionamento das relações não somente dentro dos grupos mas no contexto sociocultural coreano. Saber a idade de alguém na Coreia é tão importante quanto saber o nome. No k-pop é possível perceber que os círculos de amizades entre idols se estabelecem muito pelo ano que eles nasceram. 92 liners, 95 liners, 97 liners, etc, criam grupos de conversa e se aproximam pois são do mesmo ano. Além da idade, existem divisões quanto as principais qualidades e características de cada membro. Usualmente se divide em vocal line (vocalistas principais), rap line (rappers principais) e performance (dançarinos principais). Os visuals são os integrantes mais bonitos e por vezes considerados "face of the group", a cara do grupo (eu considero visual um termo bem controverso pois beleza é subjetiva mas é parte importante da cultura k-pop)

Sub-Units: A maioria dos grupos possuem MUITOS membros. Com o tempo a gente se acostuma mas logo de cara é estranho ver 13, 9, 7 pessoas dançando e cantando na nossa frente. Quem é quem? Como vou lembrar de tudo isso? Quem é esse de jaqueta de paetê? E o do cabelo rosa? (o curto período que a gente acha que vai lembrar de alguém pela cor do cabelo é fofo e deve ser preservado) e as sub-units são interessantes para a gente conhecer melhor o talento dos membros de cada banda. As vezes as units são mini grupos mas na maioria das vezes são duos e trios (TTS: Taeyeon, Tiffany e Seohyun das Girls Generation, CBX: Chen, Baekhyun e Xiumin na EXO, GDxTOP na Big Bang, etc) que fazem bastante sucesso comercialmente. Abaixo temos o MV de Blooming Day da unit da EXO:

Debut: É o que todo grupo sonha: começar. A data de estreia de um grupo é sagrada dentro do k-pop e comemorada como aniversário todo ano. Nem todos os trainees debutam – o que é bastante triste se a gente for analisar o tanto que eles treinam – e muitos que debutam acabam não fazendo sucesso e tendo que…

Disband: acabar. Disband é a parte triste, onde os grupos chegam ao fim. Na maioria das vezes por falta de sucesso comercial e em alguns casos por escândalo (tanto da empresa quanto do ídolo) o disband chega para todos (algumas bandas se aposentam ao invés de acabar, e isso é lindo).

Rookie: São os novatos, quem tá começando. Existe o termo rookie monster designado aos novatos que se tornam extremamente populares assim que debutam como foi o caso da TXT e da ITZY que bateram recordes de visualizações e prêmios nos programas musicais coreanos logo na primeira semana.

Comeback: É o retorno aos palcos dos grupos. O momento mais aguardado pelo kapopeiro, quando sua banda finalmente volta com novo material. Os comebacks incluem um combo de conteúdo: imagens teaser das fotos do novo conceito/era, tracklist com o nome das músicas e do álbum, as vezes um trailer introdutório que pode ser um MV, lives explicando e promovendo o que os fãs receberão em breve.

MV: Music Video. É o videoclipe. Uma vez que a gente começa a chamar de MV não tem mais volta e tudo vira MV incluindo vídeos ocidentais.

Fancam: A cultura fancam é muito popular dentro do k-pop por focar em apenas um membro do grupo. Como o próprio nome diz, ela é uma câmera feita pelo e para o fã. É uma prática muito comum pois os grupos têm muitos membros e para conseguir prestar atenção em todos/tudo que acontece as fancams são essenciais. Não só fãs gravam fancams como também os próprios programas de tv na Coréia pois eles sabem do apelo e popularidade. A fancam mais vista de todos os tempos é a do Jimin em Fake Love com mais de 33 milhões de visualizações (só eu vi umas mil vezes). Geralmente as fancams vêm em formato para se ver no celular (tela inteira) como vemos abaixo:


Fanchant/lighstick: KIM NAMJOOM. KIM SEOKJIN. MIN YOONGI. Okay, não vou cantar todo fanchant de Bangtan (cantei mentalmente) mas é interessante entender o valor do fanchant como performance dentro do fandom. O fanchant não é apenas um bonding moment entre fãs mas ele dita momentos específicos das músicas e gera conexão entre ídolos e fandom. Cada música tem um fanchant – uma espécie de grito de guerra – diferente. Na maioria das vezes cantamos o nome dos integrantes acompanhado de partes das letras, geralmente o fim pois dá para repetir. Além do fanchant, temos também as lightsticks, que eu até hoje não entendi o porquê de não ser amplamente copiada na industria musical ocidental. O lightstick, como o nome diz, é um bastão de luz, e cada grupo possui o seu. Eles possuem diferentes formas, cores e funções mas o essencial é piscar luzes, coloridas ou não, durante as performances. Alguns mudam de cor, outros têm a cor específica de cada grupo (grupos de k-pop escolhem suas cores assim que debutam), os lightsticks são protagonistas durante os shows e criam um tom diferente nas performances. A parte ruim é que eles não são nada baratos. Eu comprei a minha Army Bomb, lighstick de BTS, por 50 libras no dia do show. Não me arrependo pois é parte importante da performance como fã, mas sei que é caríssimo.

Ultimate/Bias/Wrecker: Provavelmente os termos que a gente mais escuta logo que chega no k-pop. Ultimate é o membro/grupo preferido entre todos, bias é o(a) integrante preferido(a) do grupo e bias wrecker é outro integrante que constantemente fica te fazendo pensar se o teu bias não mudou. Muitos fandoms são OT5/7/9 (One True 5/7/9/número de membros), derivado do termo OTP (one true pair), para se referir a todo grupo. Essas pessoas não possuem preferências/bias. Eu me considero uma OT7 biased pois apesar de  gostar de todos os membros de BTS eu sou Jimin biased. Na prática meu utt (ultimate) é BTS/Jimin e meu bias/wrecker é Namjoon e Yoongi. Na EXO meu bias é Kyungsoo e wrecker Jongin. Em Mamamoo é Hwasa e Solar, na NCT é Mark e Yuta e assim vamos seguindo a vida repletos de bias e wreckers.

Hyung/Noona/Oppa/Unnie: Aqui acho importante ter um disclaimer de que esses termos são importantes para compreensão da dinâmica dos nossos grupos preferidos, para acompanhar os programas e behind-the-scenes que assistimos, mas que não fazem sentido nas nossas vidas (a não ser que você seja coreano, obviamente). Existem alguns memes famosos (O que disse une/unnie?) mas de forma geral esses termos são honoríficos que funcionam para entender a dinâmica na sociedade coreana. Hyung/Noona é o termo que homens usam para se referirem a outros homens/mulheres mais velhos já Oppa/Unnie é o termo que mulheres usam para se referirem a outros homens/mulheres mais velhos. É muito comum ouvirmos os membros mais jovens chamando os mais velhos pelo nome + hyung: Jin-hyung, Hobi-hyung, etc. Usar honorífico é questão de educação e algo extremamente natural na sociedade coreana e caso a pessoa não utilize ela pode ser interpretada como mal educada.

Sunbae/Hoobae: Termos utilizados para falar de pessoas que trabalham na mesma área porém são mais velhas/experientes (sunbae) ou mais novas/inexperientes (hoobae). É comum vermos idols se referindo a bandas que vieram antes como sunbaenim (termo mais formal). Ex: Superjunior é sunbae de Shinee, que é sunbae de EXO. NCT é hoobae de todos pois foi a última banda a debutar.

Maknae: É o membro mais novo do grupo. E existe toda uma dinâmica diferente com os maknaes e seus grupos. Eles são sempre muito protegidos e enaltecidos de forma peculiar. É interessante perceber que muitas vezes os maknaes são também os membros mais populares de seus respectivos grupos. Dentre maknaes extremamente famosos temos Jungkook (conhecido por ser golden maknae em BTS), Seohyun (Girls Generation), Taemin (SHINee), Hwasa (Mamamoo), Lisa (BLACKPINK) e Sehun (EXO).

Aegyo: É basicamente ser fofo. Aegyo além de prática (membros são fofos para agradar fãs ou para zoação mesmo) é também conceito de alguns grupos, principalmente femininos. Considero uma prática bastante oriental que pode parecer bem ridícula para nós ocidentais (eu tinha vergonha demais no início quando os membros faziam aegyo), mas existe todo um contexto envolvido, não somente na Coréia mas também no Japão (kawaii). Existem aplicativos com filtros para deixar as imagens mais fofas, os fãs presenteiam ídolos com tiaras, chapéus, bichos de pelúcia, entre outros, para dar todo um tom fofuras. Aegyo inclui movimentos de dança fofos e fáceis de serem repetidos, principalmente por crianças, além de mudança no tom de voz (bem aqui eu morro de vergonha).

Nayeon (TWICE) sendo fofa/aegyo (reprodução/ wattpad)

Daebak: É a expressão WOW, legal! A gente costuma ouvir muito os membros falando uns com os outros quando se impressionam com algo e até mesmo em playlists (K-Pop daebak é a versão coreana da Pop Up no Spotify).

Sasaeng: Fãs que perseguem ídolos ultrapassando todos os limites possíveis e imagináveis. A cultura sasaeng é infelizmente muito forte e repleta de histórias absurdas, desde fãs que invadiram quarto de hotéis e se esconderam para filmar os ídolos tomando banho, até fãs que compram passagens no mesmo voo que os grupos para poderem tirar fotos de perto. Prefiro não comentar muito sobre pois o objetivo das sasaengs além de se aproximar dos idols é conquistar fama e não podemos dar palco para comportamento doentio. Fãs de k-pop já sofrem preconceito suficiente, constantemente estigmatizadas e um número pequeno de pessoas equivocadas/criminosas não podem jamais representar o que a comunidade de k-pop é e significa para as pessoas.

Koreaboo: Termo utilizado para pessoas que só falam de Coréia, vivem k-pop 24/7 e se apropriam culturalmente de forma constrangedora. É natural logo que a gente entra no universo k-pop existir a vontade de conhecer absolutamente tudo sobre uma cultura completamente diferente da nossa. Existe todo um processo de imersão e conhecimento, desde culinária, passando pelos doramas, k-beauty até mesmo entendimento da história e contexto político do lugar. Tudo isso é natural e interessante, no entanto existe uma linha tênue entre apreciar uma cultura e se apropriar dela e koreaboos tendem a ultrapassar essa linha frequentemente.

Solo stan: Pessoas que são fãs de um membro do grupo e não se importam muito com o resto. Ou até se importam mas não na mesma proporção. A maioria dos fandoms é contra qualquer comportamento solo stan pois só causa conflito e discórdia.

Akgae: Pior do que ser solo stan é ser akgae, pois a pessoa não somente gosta de apenas um membro como odeia os outros todos. Parece não fazer sentido – até porque não faz – mas existem pessoas que transformam má vontade pelo grupo de forma geral em ódio pelos membros enquanto enaltecem apenas seu preferido e acham que ele devia seguir carreira solo (o discurso é sempre o mesmo e envolve reclamar que o idol não possui destaque suficiente, está sofrendo, merece mais, seria mais feliz sozinho, etc).

Selca: É a selfie. Assim como MV, uma vez que a gente começa a falar selca, nunca mais para.

Saranghae (coração coreano): É o "eu te amo" coreano, geralmente representado pelo coração com os dedos.

BTS e seus korean hearts (reprodução/reddit)

Ship/Fan service: A arte de shipar vem muito antes do k-pop mas a junção boybands/girlbands + peculiaridades culturais (o constante contato físico, afeto e interação entre membros) define uma outra aproximação aos ships de k-pop. Shipar é basicamente conectar dois membros romanticamente. Na maioria das vezes os ships possuem conotação de namoro porém existe também o bromance, o ship entre amigos/irmãos. Os nomes dos ships são geralmente abreviações dos nomes dos membros que podem ser do mesmo grupo (Jikook = Jimin + Jungkook de BTS) ou de grupos diferentes (Lizkook = Lisa da BLACKPINK e Jungkook de BTS). Muitas pessoas preferem usar o termo supporter do que shipper por causa das constantes brigas que esses pares causam dentro dos fandoms. Apesar de gerar um certo caos, os ships também formam amizades, criam conteúdo (milhares de fanfics) e são alimentados pelos próprios ídolos em forma de fan service. Tudo isso enriquece a performance dos idols e torna a narrativa mais interessante aos fãs.

Perfect All-Kill (PAK), All Kill (AK), Certified All Kill (CAK): Aqui temos os termos mais específicos da indústria do k-pop. Quando uma música atinge #1 lugar em todos os charts em tempo real, contabilizados por hora, ela é considerada AK (all kill). Quando a música fica em #1 nos charts em tempo real além dos charts contabilizados por dia ela é considerada CAK (certified all kill). E por fim quando a música é #1 nos charts em tempo real (por hora), dia e semana (total semanal) ela é considerada PAK, o perfect all kill.

Daesang/Bonsang: Daesang é o prêmio mais importante das premiações coreanas. Geralmente são os prêmios de álbum do ano, canção do ano e artista do ano. O Bonsang é distribuido aos melhores do ano, grupos que venderam e se destacaram mais. O daesang normalmente é dado a um dos bonsangs (vários grupos recebem bonsangs pelas conquistas do ano, apenas um recebe daesang por ser o melhor entre os melhores).

Gayo/Music shows: A Coréia possui uma série de programas semanais onde idols se apresentam para promover seus novos trabalhos. Entre os programas mais importantes temos M!Countdown, Music Bank, Music Core e Inkigayo. Vencer semanalmente nesses programas é o que estabelece números e chances dos grupos serem reconhecidos nas premiações de fim de ano. E é no fim do ano que existe a série Gayo, três festivais de shows que juntam os melhores grupos do ano em performances exclusivas e colaborações entre idols.

V(app/live) & Fancafe: Os grandes canais de comunicação entre idols e fãs (especialmente coreanas). A VApp é onde idols fazem suas lives (VLIVE), uma prática bastante comum no k-pop. Seja depois de show, para comemorar aniversário, explicar sobre álbuns e comebacks ou sem grandes motivações a não ser interagir com o fandom, as lives são ponto alto e ajudam a estabelecer maior conexão entre ídolos e fãs. Já o fancafe é um fórum coreano onde os idols costumam deixar textões numa linha diário e as vezes entram para conversar em chats. É um sistema baseado em pontos e todo em coreano, ou seja, é preciso saber falar/escrever a língua. Na maioria das vezes os idols postam no fancafe e fãs coreanas traduzem o conteúdo para ser disseminado no fandom.

Sobre a autora

Camila Monteiro é jornalista e estudante de doutorado em música, mídia e fandoms. Ama cultura pop e é muito fã de Bangtan. Sua vida se divide em antes e depois que ela viu Park Jimin na sua frente.

Sobre o blog

Nesse espaço discutiremos o Universo Kpopper: fandoms, bandas, debuts, disbands, MVs, álbuns, tours, coreografias, Coréia e tudo que o K-Pop nos oferece. Entre visuals, rappers e vocalistas, ultimates e bias wrecker estabelecido(a)s, vamos refletir sobre as diferentes gerações do pop coreano, a influência na moda, beleza, cultura e como o K-pop muda a vida das pessoas.

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