Multiverso empoderado: momentos icônicos de HIP, novo single de MAMAMOO
Camila Monteiro
14/11/2019 18h38
Hoje (14) saiu o aguardado álbum completo das Mamamoo, Reality in BLACK, com 11 músicas e cerca de 35 minutos. O disco mostra a evolução das quatro idols como artistas, envolvidas diretamente na produção, letra e conceito do álbum. Todos que acompanham o grupo sabem que elas são exímias vocalistas e praticamente ninguém tem uma vocal line tão poderosa como elas, porém em RiB elas vão além, principalmente com o lead single HIP, uma música que contextualiza muito bem o disco e a realidade delas como idols numa indústria machista e que persegue mulheres em absolutamente todos os departamentos: roupas, voz, atitude, ocupação de espaços. HIP é o ativismo cada vez mais necessário, com Hwasa, Moonbyul, Wheein e Solar mostrando suas várias facetas em diferentes universos; O Multiverso Mamamoo está entre nós e ele é original, experimental e atual.
Com um disco empoderado sem perder a essência do grupo, gogó de ouro do início ao fim, HIP situa a gente em um momento de libertação e amadurecimento de todas as integrantes. Elas estão cansadas de receberem as mesmas críticas sempre, de serem julgadas e diminuídas e o MV mostra isso explicitamente. Selecionei então os melhores momentos do vídeo que merece ser visto e disseminado.
- Hwasa mandando recado para a mídia coreana
Hwasa é uma das idols mais populares da Coréia e está sempre tendo suas fotos estampadas por todos os cantos, geralmente junto de críticas as escolhas de suas roupas e por ser "muito ousada". No MV ela toca em um assunto específico, quando ela foi duramente criticada por não usar sutiã em uma ida ao aeroporto. Com ironia, ela virou presidente e está sendo execrada pela sua escolha. O recado é claro: não importa o cargo que a mulher ocupa, mesmo presidente, ela seguiria sendo perseguida e tendo seu corpo julgado. Aqui ela mostra que é ousada mesmo, e que a sociedade coreana vai ter que aceitar quem ela é: uma mulher forte e que faz o que quer.
- Solar boxeadora
O mais interessante no plot de Solar é que ela começa como uma princesa da família real e acaba optando por lutar boxe, algo considerado pouco feminino. Novamente estamos diante de alguém que vai atrás de seus sonhos sem se importar com rótulos e julgamentos alheios (um dos maiores problemas de qualquer sociedade, principalmente a coreana).
A maior boxeadora que você respeita, Solar (reprodução/youtube)
- Wheein ativista
Em tempos tão difíceis como o que estamos vivendo, é muito bom ver o ativismo chegando nos nossos idols de coração e no Multiverso Mamamoo temos Wheein bem ativistona, protestando em prol do caos climático que assola o mundo inteiro. Nessa versão ela está em busca de um mundo melhor, expressando seu lado artístico e principalmente político. Isso por si só tem uma importância gigantesca pois as empresas de idols fogem de assuntos polêmicos e envolvimento com causas que muitas vezes vão de encontro com grandes patrocinadores e conglomerados midiáticos.
Wheein ativista (reprodução/youtube)
- Moonbyul CEO
Por fim temos Moonbyul, rapper principal do grupo, como CEO de uma empresa de kpop. Esse momento é catártico, pois sabemos que a indústria do entretenimento é extremamente machista e ver Byul comandando, em volta de álbuns bem sucedidos espalhados pela parede mostra que nesse Universo, ela não apenas comanda mas faz sucesso. Esse sucesso é importante para mostrar que a ocupação dos espaços pelas mulheres é importante e revolucionário, e que somos capazes e precisamos cada vez mais ocupar ambientes dominados por homens. A ausência de mulheres em tantos cargos não é por falta de competência e sim oportunidade. Moonbyul é a síntese disso. Em seu rap ela canta: "Thanks to everyone who attacked me, up till there it reflects on you. Because of you I gained more strength I'm gonna go prepare for my next album"; por causa dos haters, ela ganhou forças e se prepara para o próximo álbum e consequentemente mais sucesso.
Moonbyul dona do mundo (reprodução/youtube)
- Drag Queens??
Solar aparece em três diferentes universos e um deles ela é uma rockstar a la Cruela DeVil meets Beetlejuice, com cabelo e roupa metade preto e branco. Ao seu lado ela aparenta possuir uma banda formada por drag queens. Embora não haja confirmação, a estética está claramente ali, e diante de uma sociedade homofóbica e que clama por mulheres discretas, a cena é outra declaração importante do grupo.
Solar rockstar (reprodução/youtube)
- Multiverso empoderado
Sem dúvidas HIP não é apenas mais uma música boa do kpop, e sim o início de um projeto que nos traz um multiverso empoderado, cheio de recados dados diretamente ao público e crítica, com as cantoras soltando seus vozeirões de todas as formas: cantando muito e dando a letra para quem constantemente tenta diminuí-las. Seja Hwasa tapando os olhos de uma criança, mostrando a hipocrisia de cada dia, Solar exausta de ser princesa e em busca de novos desafios, Wheein politicamente engajada e Moonbyul mostrando que mulheres podem dominar qualquer ambiente, mesmo o mais machista de todos, Mamamoo está no seu melhor momento. Com a vitória recente no programa Queendom e um álbum sonoramente excelente e politicamente importante, estamos diante de um dos melhores grupos femininos que o pop – não somente o pop coreano – já viu. E que privilégio é poder acompanhá-las.
Hwasa tapando os olhos de uma criança (reprodução/youtube)
Um vrá pra mídia coreana (reprodução/youtube)
Solar era princesa mas resolveu virar lutadora (reprodução/youtube)
Deixo vocês com a performance ao vivo de HIP, e com a novidade que é vê-las cantando sem microfone na mão!!! Quem sabe faz ao vivo, e ninguém faz ao vivo melhor do que Mamamoo:
Sobre a autora
Camila Monteiro é jornalista e estudante de doutorado em música, mídia e fandoms. Ama cultura pop e é muito fã de Bangtan. Sua vida se divide em antes e depois que ela viu Park Jimin na sua frente.
Sobre o blog
Nesse espaço discutiremos o Universo Kpopper: fandoms, bandas, debuts, disbands, MVs, álbuns, tours, coreografias, Coréia e tudo que o K-Pop nos oferece. Entre visuals, rappers e vocalistas, ultimates e bias wrecker estabelecido(a)s, vamos refletir sobre as diferentes gerações do pop coreano, a influência na moda, beleza, cultura e como o K-pop muda a vida das pessoas.