Rewind: f(x), você merecia bem mais
Camila Monteiro
15/08/2019 17h58
Toda semana eu trago uma playlist que de alguma forma ditou o ritmo dos meus dias, e no início dessa semana eu acabei caindo na playlist que um amigo fez, intitulada "Me entreguei pro K-Pop". Fiquei positivamente surpresa ao ver que a primeira música era a excelente 4 Walls. De lá pra cá eu fui sugada pelo vortex f(x), que é uma das melhores coisas que já aconteceu no kpop, apesar de a SM não ter jamais valorizado o grupo como ele merecia.
Formada em 2009, f(x) vai completar uma década de existência agora em setembro sem nenhuma perspectiva de comeback e com notícias recentes bastante desanimadoras, mostrando que Krystal, a maknae do grupo, não tem intenção de voltar aos palcos. Desde 2016 a SM colocou o grupo em banho-maria, e de lá pra cá Amber e Luna já lançaram alguns solos, Victoria virou atriz, assim como Krystal que também atua e se prepara para lançar outro reality com sua irmã, Jessica (Jung, ex-Girls Generation).
f(x) ainda com cinco integrantes
Uma série de fatores externos acabaram prejudicando o caminho do grupo: primeiro com a saída de Sulli em 2015. O motivo, em tese, foi que ela iria em busca do seu sonho de ser atriz, mas na prática, o fato de ela ter tido um relacionamento conturbado em uma realidade onde namorar é visto como um problema, acabou fazendo a empresa tirar a cantora do grupo. Namoro também, foi o que transformou a vida de Krystal num inferno, pois ela teve um affair com Kai bem no auge da EXO, o que gerou uma quantidade absurda – e horrível – de hate direcionado a ela. O estigma do namoro foi tanto, que mesmo anos depois, quando saiu a confirmação da relação de Kai com Jennie das Blackpink, o nome de Krystal voltou a circular (e foi parar nos trending topics do twitter na virada desse ano). Os coreanos têm uma dinâmica completamente diferente com namoro e celebridades e, obviamente, é sempre pior para as mulheres, principalmente no contexto machista que vivemos.
Krystal, Kai e Taemin num dos photoshoots mais lindos que já vi
Apesar de o problema com namoros parecer bobagem, houve também uma certa animosidade em relação aos posicionamentos políticos de Victoria, única integrante chinesa do grupo. E esse já pode ser considerado um problema histórico dentro da SM. Praticamente todos os grupos que possuem chineses sofrem algum tipo de problema envolvendo justiça e política (Suju e EXO os principais exemplos). As tensões entre países asiáticos são grandes, essa semana mesmo tivemos o caso do Lay (estaria ele ainda na EXO??) quebrando contrato com a Samsung em prol do movimento "One China policy", contra a independência de Taiwan e Hong Kong. Vale lembrar que Amber tem origem taiwanesa apesar de ter nascido na América. Ou seja, os conflitos saem do universo idol e se expandem de forma complicada.
Entretanto, nada justifica o descaso da SM com o grupo, que em seis anos lançou uma série de músicas e vídeos muito acima da média e que nunca teve medo de ousar. Sempre que assisto os MVs delas, eu percebo influências da própria SHINee, que também estava começando, e que, igualmente, trouxe uma série de melhorias a elementos já conhecidos dentro do kpop. Ambos os grupos marcaram a segunda geração, não apenas pelo sucesso, mas por terem reinventado conceitos que acabaram moldando as futuras gerações como conhecemos hoje. Eu ainda considero f(x) mais fora da curva e experimental, com produções e arranjos que seriam ainda mais enaltecidos hoje em dia. Também gosto muito de tudo que Amber representa, não sendo tomboy apenas como um personagem, mas sim por ser quem ela realmente é: uma idol nada convencional.
Acima temos o debut do grupo em setembro de 2009 com La Cha Ta. Na época f(x) tinha a sombra de ser a girlband que iria seguir os passos da gigante Girls Generation, portanto elas precisavam ter um branding diferente, algo que, pelo menos aqui, a SM parece ter acertado. F(x) desde o começo foi uma girlband cujos visuais e sons eram igualmente bons e únicos. Se analisarmos o catálogo do grupo, o debut é provavelmente a faixa "menos" f(x) de todas, remetendo a girlbands noventistas.
Já Danger, ou Pinocchio como é conhecida, é um grande pé na porta, mostrando toda qualidade audiovisual do grupo. É o meu MV preferido delas pois traz todos os elementos que eu conecto ao legado f(x): abstração, cores diversas, coreografia ótima e fácil de replicar, roupas insanas, Amber com um make impecável, cenário giratório, tecnologias, refrão chiclete e a certeza que estamos diante de um hit.
Outro grande hit, lançado também em 2011, foi Hot Summer. f(x) pavimentou o caminho pras Blackpink chegarem com seu carro de combate – inclusive o carro é, coincidentemente, preto e rosa – em Kill this love. É impressionante como f(x) só tem bops no catálogo. Parece exagero mas honestamente, depois de passar por todos os lançamentos delas, não existe nenhuma música ruim, e todos os singles são ótimos, com vídeos igualmente bons e coreografias perfeitas para aprender e dançar no meio da pista *perninha pro lado ao som de HOT SUMMER A HOT HOT SUMMER*
Já tivemos grandes jams e ainda nem tínhamos passado por ela, a rainha de todos os bops de f(x): Electric Shock. Essa música é muito à frente do seu tempo, e tal qual Pinocchio, traz a essência do grupo, num combo de eletro-dance-pop, luzes por todos os lados, passinho pra lá e pra cá, roupas duvidosas e chamativas, com um narrativa meio heroína – LASER – de um submundo neon. NANANANA ELECTRIC (nessa altura eu já to revendo todos os vídeos conforme vou escrevendo pois é o que essas músicas merecem).
Como superar Electric Shock?? Resposta: Com um disco incrível como Pink Tape, lançado em 2013 cujo single principal é outro bop, seguindo a linha Rihanna, Man Down, RUM PUM PUM PUM (man down). Okay, não é man down mas tem o seu valor. Destaque para o breakdance no fim e novamente, ótima coreografia. O figurino toalha de mesa/hipster de bigode deve ter sido replicado por muitos grupos de dança. Eu certamente faria se participasse de um pois icônico.
Red Light, lançado em 2014, apesar de ser outro acerto do grupo, agora mais eletro-gótico, foi marcado infelizmente pelo fim precoce da promoção do disco por causa da saída de Sulli, que saiu oficialmente apenas em 2015. Como sempre, a saída de um membro desestabiliza bastante tanto fandom quando grupo, e para muitos fãs de f(x), esse período marca o início do fim.
Todavia no ano seguinte, f(x) lançou o melhor álbum da carreira delas: 4 Walls. A música-título é completamente diferente de tudo que elas tinham lançado como single até então, e todos os teasers e fotos promovidos trazem o grupo bem menos colorido, meio irmãs HAIM, naturebas e bucólicas, mas sem perder a essência máquina-de-bops-fora-da-caixa que elas sempre tiveram. Diamond é outro grande jam do disco.
Infelizmente 4 Walls foi o último trabalho das f(x), e verdade seja dita, seria o disco ideal para dizer tchau a SM depois de tanta enrolação nos últimos 3 anos. Seja SM abafando namoros, problemas políticos e falta de comprometimento da empresa com as artistas – eles levaram praticamente 7 anos para criar um nome pro fandom, reflitamos nisso -, a impressão que fica é que o grupo foi uma ponte entre Girls Generation e Red Velvet, o que, como vimos nesse post, é um grande equívoco.
A SM pode não valorizar f(x), mas estaremos aqui para lembrar de tudo que elas fizeram pelo kpop.
Sobre a autora
Camila Monteiro é jornalista e estudante de doutorado em música, mídia e fandoms. Ama cultura pop e é muito fã de Bangtan. Sua vida se divide em antes e depois que ela viu Park Jimin na sua frente.
Sobre o blog
Nesse espaço discutiremos o Universo Kpopper: fandoms, bandas, debuts, disbands, MVs, álbuns, tours, coreografias, Coréia e tudo que o K-Pop nos oferece. Entre visuals, rappers e vocalistas, ultimates e bias wrecker estabelecido(a)s, vamos refletir sobre as diferentes gerações do pop coreano, a influência na moda, beleza, cultura e como o K-pop muda a vida das pessoas.