Clé 1: Miroh mostra o talento e amadurecimento de Stray Kids
Camila Monteiro
25/03/2019 11h45
Stray Kids em imagem de divulgação do novo lead single, Miroh (reprodução/twitter)
Listen to this seungjeonga (Ouça esse vencedor). É assim que Felix, um dos cinco rappers de Stray Kids, nos convoca a escutar o excelente álbum Clé 1: Miroh, marcando uma nova fase do grupo que agora já não questiona mais quem eles são (na ótima trilogia I am: not, who e you) e sim para onde vão. Clé é chave em francês e Miroh é o labirinto, o que nos abre interprações das mais diversas, sejam referentes as dificuldades cotidianas, formação da nossa identidade ou a luta constante pelo que desejamos. Essa é uma longa jornada, que começou com Hellevator lá na primeira mixtape do grupo, se consolidou em Distric 9, faixa principal de I am not, passou por My Pace e I am you para chegar até Miroh, lead single desse novo disco. E quem nos guia por esse labirinto é Bang Chan, líder, rapper, produtor, compositor, e grande mente por trás de SKZ. Clé 1 poderia facilmente ser um I am: Chan mas o grupo nos mostra constantemente o porquê de eles serem nove e de como uma rap line excelente faz toda a diferença. Aqui, gostaria de salientar o quão importante é para qualquer grupo ter músicos que criam ativamente suas canções, conceitos e nos entregam algo que a gente sente a mão deles ali; a diferença quando escutamos algo feito pelos membros vs algo escrito por um grupo de produtores externos é enorme. Não entrarei no mérito da qualidade, pois produtores externos são tão ou mais capazes de nos entregar boas músicas mas essa proximidade e orgulho que temos ao ver os nomes dos nossos idols ali na lista de produtores/letristas nos ajuda a construir um vínculo muito maior com o artista e a arte que eles produzem. E Stray Kids têm isso de sobra graças ao trio Chan, Changbin e Han/Jisung, também conhecidos como 3Racha, onde eles começaram como rappers produtores utilizando os nomes artísticos CB97, SPEARB e J.ONE respectivamente. Abaixo coloquei o link do soundcloud do trio que vale a pena ser escutado para entender daonde vem o sucesso de SKZ.
Como apreciadora de rap lines e rappers que escrevem seus próprios versos – o que considero o mínimo, pois essa é a essência da poesia do rap – é impossível para mim não fazer um paralelo entre 3Racha e a rap line de BTS. Esse é o momento em que fãs/stan twitter me odeiam mas é importante entender que traçar um paralelo e conectar referenciais é essencial para o grande público entender o porquê de Stray Kids merecer seu espaço na música (não apenas no kpop). E para nós que trabalhamos com música e fandoms de forma jornalística e acadêmica não existe forma melhor do que apontando similaridades e diferenças – que são muitas – entre artistas já estabelecidos. Dizer que Changbin tem a mesma dor e angústia quando canta como Yoongi, ou que Jisung é um misto de Hoseok com G-dragon ou até mesmo que a liderança de Chan, mente por trás da banda, nos lembra Namjoon não é diminuir o valor do grupo de forma nenhuma, muito pelo contrário; é estabelecer referências – todas ótimas diga-se de passagem – para trazer mais pessoas para o fandom, que uma vez interessadas podem desfrutar do trabalho deles sem comparações e perceber peculiaridades e qualidades únicas que eles possuem de sobra. Assim como hoje Chan me lembra Namjoon, cada vez tenho mais certeza que em alguns anos, novos rappers liderando seus grupos como produtores e letristas me lembrarão Chan. Essa é a ordem natural das coisas (quando lidamos com talento).
E é Chan quem mais brilha em Miroh, faixa título e primeiro MV divulgado pelo grupo. Em uma espécie de protesto, numa linha ativistas num presente distópico, o grupo se encontra em cima de um prédio (Peter Parker meets parkour) e em meio a batidas EDM, house e trap music nos convence de que não estamos sozinhos nessa selva de pedra (a jungle que tanto aparece em canções do grupo).
O álbum, que tem pouco mais de 20 minutos e é composto por sete músicas (existe uma faixa extra intitulada mixtape #4 apenas para as cópias físicas do disco) mostra uma clara evolução do grupo. Apesar de novatos, SKZ sempre aparentou ter anos de carreira nas costas, seja pelo talento do trio de rappers da 3Racha, da vocal line excelente ou de Felix e Hyunjin, que poderiam facilmente ficar pra trás ao serem colocados lado a lado de Chan, Changbin e Jisung mas cujo talento e visual só agregaram valor, solidificando Stray Kids como uma das melhores boybands no kpop (e pop de forma geral). Clé, chave em francês, inicia essa nova etapa do grupo que logo de cara, na faixa Entrance, nos entrega mais francês misturado com batuques e uma produção que me lembrou demais House of Baloons, excelente mixtape do The Weeknd, feita em 2011. Entrance já estabelece o tom do álbum e logo de cara percebemos que estamos diante de algo diferente. Miroh apesar de não ter uma letra fora da curva ou até mesmo excelente, é uma ótima música e algo que eu não esperava como lead single. Aqui SKZ usa o edm de forma certa e com personalidade, algo que muitas vezes se perde no gênero. Novamente é possível notar a mão de Chan no arranjo e ver ele liderando todos os aspectos da música, desde produção até dançar em cima de um edifício é extremamente gratificante como consumidora/fã.
Assim como Miroh, Victory Song nos entrega Felix e sua profunda voz, rap line completamente dona dos seus respectivos versos – logo que Han entra na música eu consigo ouvir G-dragon no seu auge – e vocal line fazendo o balanço necessário. UNDEFEATED ficará na sua cabeça por um tempo. O tom do álbum muda completamente em Maze of Memories que é basicamente uma ode a rap line do grupo. A produção da música é insana, cada rapper entregando seus respectivos versos em diferentes tempos/flows, mostrando o que diferencia cada um ali. A utilização correta do autotune também merece destaque. E a gente sai do labirinto de memórias e cai em Boxer, que tem uma mistura de sons meio oitentista, meio video game old school e parece trilha sonora ideal para uma cena de Creed (ou qualquer filme em que o protagonista vence seus medos e adversários, kicking ass mesmo). Acaba a música e a gente se sente dona de tudo. E depois disso só a vocal line nos entregando uma música mais pé no chão, melódica e quase balada para nos informar que estamos quase no fim dessa primeira parte da jornada. Chronosaurus traz o terceiro tom que temos nesse disco, que em apenas 20 minutos nos mostra o quão SKZ é eclética e talentosa. Para finalizar em grande estilo temos 19, música que tem nome e sobrenome: Han Jisung. Apesar da mão do Chan na produção, a letra foi feita toda por Han que finaliza essa jornada parte 1, Miroh, de forma terna com o grupo nos contando como envelhecer pode ser difícil e que as vezes a gente só quer parar no tempo para aproveitar melhor. Clé 1: Miroh é um disco que merece ser escutado em ordem pois as músicas fazem mais sentido e contam uma história. Uma história que a cada dia que passa fica mais interessante, e como o próprio nome do fandom define, nos faz ficar (stay) para ouvir mais.
Sobre a autora
Camila Monteiro é jornalista e estudante de doutorado em música, mídia e fandoms. Ama cultura pop e é muito fã de Bangtan. Sua vida se divide em antes e depois que ela viu Park Jimin na sua frente.
Sobre o blog
Nesse espaço discutiremos o Universo Kpopper: fandoms, bandas, debuts, disbands, MVs, álbuns, tours, coreografias, Coréia e tudo que o K-Pop nos oferece. Entre visuals, rappers e vocalistas, ultimates e bias wrecker estabelecido(a)s, vamos refletir sobre as diferentes gerações do pop coreano, a influência na moda, beleza, cultura e como o K-pop muda a vida das pessoas.