7 razões para entender o enorme sucesso de BTS:
Camila Monteiro
11/03/2019 19h10
BTS no Grammys 2019 (RM, Jimin, Jungkook, V, Suga, Jin e J-Hope)
Cinquenta minutos. Esse foi o tempo necessário para BTS esgotar os ingressos online para a Love Yourself: Speak Yourself Tour, que acontecerá dia 25 de maio no Allianz Parque com capacidade para 45 mil pessoas. Quem é fã sabe a dor de cabeça que é comprar ingresso para o show, principalmente com o Brasil sendo o único país que o grupo passará em toda a América Latina. Enquanto os fãs esperam a abertura de venda dos ingressos para o segundo show e o lançamento do novo disco, anunciado para o dia 12 de abril com o título de Map of The Soul: Persona, trago aqui 7 razões para entender o enorme sucesso que eles fazem em todo o mundo e por que você deveria saber quem eles são:
- A mensagem e o trabalho em equipe
Tuíte publicado em março de 2013, 3 meses antes do debut.
"Teamwork makes the dream work", a constante lembrança da banda de que o trabalho em equipe é fundamental para o sucesso deles virou marca registrada de BTS. Todos os 7 membros importam e trazem características distintas que agregam valor ao grupo. Os 3 rappers da banda, Namjoon (RM), Yoongi (Suga) e Hoseok (J-Hope) escrevem e produzem a maioria das músicas que também contam com a participação dos vocalistas da banda Jungkook, Jimin, Taehyung (V) e Jin. Todo trabalho é discutido com todos os membros e staff (Big Hit, empresa da banda, conta com um grupo fixo de produtores que trabalha com eles) e resulta em uma proximidade maior entre ídolos e fãs. Desde a estreia, em 2013, os membros participam da produção das músicas. E isso pode ser visto na mensagem que eles passam desde o início até agora, mostrando um processo de amadurecimento. Sejam os conflitos na escola e as pressões socioculturais da Coréia trabalhadas na "trilogia escolar" (2Cool4Skool, O!RUL8,2?, Skool Luv Affair), passando pelas tensões da adolescência (Dark & Wild e The most beautiful moment in life: Young Forever), conflitos internos (Wings) até a trilogia em busca da aceitação e amor próprio (Love Yourself Her, Tear e Answer), BTS sempre foi crítico ao status quo e as letras da banda chamam atenção não somente dentro do k-pop mas na música pop de forma geral. Baseados em autores como Murakami, Herman Hesse e Jung (o novo disco da banda se chamará Maps of The Soul: Persona, clara referência à sua obra), Bangtan traz filosofia, psicologia, arte e poesia em seu trabalho e isso influencia os fãs que buscam entender melhor o Universo construído pelo grupo.
2. Existe (muita) vida além do Ocidente
Inicialmente existe um estranhamento muito grande ao ver uma banda cantando em coreano (?!) e lotando estádios em todo o mundo, mas isso diz mais sobre a nossa falta de conhecimento – e preconceito – do que falta de apelo e público. BTS foi o segundo artista que mais vendeu discos físicos ano passado, ficando atrás apenas de Eminem. Somente na Coréia eles venderam mais de 1 milhão de álbuns em apenas uma semana e conseguiram ficar em #1 na Billboard duas vezes em um mesmo ano. Além disso a banda faz grande sucesso também no Japão e cresce cada vez mais na China, um dos principais mercados atuais (no fim do mês a banda fará 4 shows esgotados em Hong Kong). Para entender o tamanho do mercado fonográfico asiático, enquanto o Spotify tem cerca de 200 milhões de usuários ativos mensalmente, as plataformas asiáticas como QQ e Wesing têm cerca de 800 milhões. As visualizações dos videoclipes – os MVs – atingem números igualmente impressionantes: Idol de BTS teve mais de 45 milhões de visualizações em apenas 24 horas, batendo o recorde anterior de Taylor Swift. Esse sucesso transcultural é facilitado pela internet e principalmente pelos fãs da banda, os Armys (acrônimo para Adorable Representative MC for Youth), o que nos leva para…
3. ARMYs e Twitter
A troca que existe entre fandom e artista é fundamental para entender o sucesso de BTS. Por terem começado em uma empresa pequena e sem muito apoio financeiro a banda teve um crescimento orgânico que é bastante enfatizado pelos membros, principalmente Namjoon (RM), líder do grupo. Apesar de terem debutado em 2013, o sucesso de BTS começou de fora pra dentro. Primeiro eles ficaram famosos internacionalmente para depois se consolidarem como grandes estrelas coreanas, o que é um movimento por si só diferente. Esse sucesso veio principalmente pela relação estabelecida com o fandom. Seja em forma de tradução – atividade essencial pois a língua é uma grande barreira – maratonas de votação e fansites, o fandom faz seu trabalho, pedindo música em rádios, streaming em diversas plataformas e acompanhando ídolos em fan meetings e premiações; os Armys estão sempre lá apoiando. E essa relação é estabelecida principalmente no Twitter, rede social dominada pelo grupo. Pra se ter uma ideia, enquanto BTS teve cerca de 407 milhões de menções na rede social no último ano, o segundo colocado, o presidente norte-americano Donald Trump, teve 104 milhões. Os projetos feitos pelo fandom chegam aos assuntos do momento em questão de minutos e praticamente todos os tuítes postados pela banda com fotos e vídeos do que eles estão fazendo costumam ter mais de 1 milhão de likes.
- O valor artístico
Todos os conceitos de BTS são pensados detalhadamente: as roupas usadas nos photoshoots, os VCRs das premiações, as conexões entre álbuns e vídeos, as coreografias complicadas e executadas perfeitamente. O trabalho da banda e do staff mostra a qualidade de valores que eles abraçam: valor da dança, da memória, de afeto, de pré e pós produção e o valor do próprio disco. Em tempos de streaming, com as vendas de discos físicos despencando, BTS não somente vende muitos discos como conquistou a primeira indicação de um artista coreano na história do Grammy com Love Yourself: Tear concorrendo pelo seu design. Os discos da banda vêm acompanhados de um livro de fotos com letras das músicas, agradecimentos, photocards (que os fãs colecionam e trocam), adesivos além do disco, que vira quase um acessório já que os fãs costumam mesmo fazer streaming. O valor artístico da banda é constantemente pauta do fandom que especula e cria teorias para entender melhor os conceitos trabalhados pelo grupo.
- Diversidade e Proximidade
Taehyung (V) com seu cachorro Yeontan
Tive oportunidade de ver BTS duas vezes ano passado em Londres e algo que me chamou muita atenção, como pesquisadora e jornalista mas principalmente como fã, foi a quantidade de pessoas diferentes reunidas para ver a banda. Eu trabalho com fandoms e entrevistas em shows há 10 anos e nunca tinha visto nada parecido. Mesmo a maioria do público sendo feminino, existem muitos homens que não estão lá apenas como acompanhantes. Fui achando que encontraria um grande número de crianças e adolescentes e acabei encontrando várias pessoas da minha idade (29 anos) e mais velhas. A mensagem e a qualidade das músicas são os dois fatores mais citados pelos fãs mais velhos da banda como características principais para terem se tornado fãs. Além da proximidade dos membros com os fãs. Acompanhar a vida deles nas redes sociais e nos programas que eles produzem (a banda tem atualmente dois programas fixos, o Run, um programa de variedades e o Bon Voyage, programa de viagens), DVDs e especiais além de mensagens de afeto escritas pelos integrantes em fóruns de fãs, a relação entre BTS e Armys é muito próxima e essa vulnerabilidade da banda de mostrar momentos bons e ruins faz com que o fã se sinta extremamente presente no cotidiano deles.
- Projetos Sociais e Impacto na Coréia
Kim Namjoon (cent.) discursando na ONU
Um dos pontos mais altos da trajetória da banda até então foi o discurso de Kim Namjoon (RM, líder de BTS) para a ONU (Organização das Nações Unidas) ano passado. Citando sua trajetória pessoal e profissional, Namjoon tocou em problemas sérios que afetam a geração atual e pediu para as pessoas, independente de gênero e cor, se aceitarem e falarem, sempre usando a sua voz. Esse foi e segue sendo o tom da banda na fase Love Yourself, onde as músicas trabalham com as diversas formas de aceitação, amor próprio e que a voz por vezes enterrada ("I buried my voice for you" em Singularity, abre o disco Tear), precisa agora gritar e ser ouvida (Speak Yourself é o nome da Tour que a banda iniciará em maio desse ano e que passará no Brasil). A banda ainda fez uma campanha em parceria com a UNICEF, a Love Myself, arrecadando mais de $1.4 milhão de dólares (mais de 5 milhões de reais). Além de letras de músicas, discursos e parcerias com instituições sociais, os fãs da banda costumam ajudar ONGs em projetos para os aniversários dos integrantes, desde doações de roupas, alimentos e rações até adoção de animais. BTS colabora também para o turismo na Coréia, gerando cerca de $3.6 bilhão de dólares (cerca de 14 billhões de reais), o equivalente a 26 empresas médias. O grupo é patrocinado pela Hyundai, LG, Banco Kookmin, Mediheal (famosa pelas máscaras faciais coreanas) e recentemente fechou negócio com a Mattell e Pop Funko para a criação de bonecos.
- Cultura Boyband e Saúde Mental
Por fim, e possivelmente a característica mais marcante na vida dos fãs, temos a questão da saúde mental. É necessário entender primeiramente que a cultura de boybands sempre foi e continua sendo criticada por ser exaltada predominantemente por meninas. Seja histeria ou mau gosto, existe uma necessidade constante de diminuir o valor da música e grupo pelo simples fato de o fandom ser composto por mulheres. E os integrantes da banda sabem disso. Yoongi (Suga), em conversa com os outros membros explicou o quão extraordinárias são as fãs que constantemente são diminuidas por gostarem de idols. Tanto a banda quanto os fãs possuem essa relação de ajuda constante. Os membros enxergam no fandom a razão para seguirem suas carreiras e as fãs encontram nas letras das músicas, nos vídeos e mensagens, uma espécie de muleta para aguentarem as dificuldades cotidianas. O fato de alguns membros falarem abertamente que sofrem de ansiedade e depressão e disso ser discutido nas músicas é mais um fator de proximidade entre ídolo e fã; as pessoas se enxergam ali e percebem que podem sair dessa situação com diálogo e auxílio profissional. É ok não ter grandes sonhos, é ok não se sentir bem o tempo inteiro pois nenhuma escuridão dura pra sempre, nenhuma estação dura pra sempre e como BTS canta, a primavera virá novamente.
Sobre a autora
Camila Monteiro é jornalista e estudante de doutorado em música, mídia e fandoms. Ama cultura pop e é muito fã de Bangtan. Sua vida se divide em antes e depois que ela viu Park Jimin na sua frente.
Sobre o blog
Nesse espaço discutiremos o Universo Kpopper: fandoms, bandas, debuts, disbands, MVs, álbuns, tours, coreografias, Coréia e tudo que o K-Pop nos oferece. Entre visuals, rappers e vocalistas, ultimates e bias wrecker estabelecido(a)s, vamos refletir sobre as diferentes gerações do pop coreano, a influência na moda, beleza, cultura e como o K-pop muda a vida das pessoas.