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All to Action é o álbum que vai fazer você virar Atiny

Camila Monteiro

08/10/2019 17h33

ATEEZ no photoshoot de All To Action (reprodução/KQ Entertainment)

Pouco menos de um ano depois do seu debut, que ocorreu no fim de outubro de 2018, a ATEEZ fechou a Era Treasure da melhor forma possível: com um excelente disco completo, o Treasure Ep. Fin: All to Action. O álbum é o desfecho da série de "tesouros" que o grupo entregou ao longo desse primeiro ano de carreira. Tudo começou em outubro de 2018 com o mini álbum Treasure Ep. 1: All To Zero com a ótima Pirate King e a minha favorita Treasure – que possui um valor ainda maior depois do lançamento de hoje -; deu um grande passo com Treasure Ep. 2.: Zero To One, onde Say My Name e Hala Hala mostraram outra faceta do grupo e por fim, o último lançamento antes do álbum completo, com Treasure Ep. 3: One to All, Wave sendo provavelemente o maior sucesso do grupo até então na Coréia e Ilusion complementando muito bem o ciclo de singles duplos lançados a cada novo comeback.

(reprodução/KQ Entertainment)

Desde o início ATEEZ já possuia elementos que indicavam que estávamos diante de um grupo diferente. Lembro quando assisti aos primeiros MVs do grupo e fiquei incrédula que era um debut, tamanha qualidade e entrosamento dos integrantes. As vezes basta olhar para algo para ver que faz sentido e ATEEZ combina todos os elementos que fazem a gente acreditar que eles são diferentes. Todos os membros são extremamente carismáticos, Hongjoong sempre me chamou atenção, seja por me lembrar G-DRAGON, por dançar muito, escrever suas próprias músicas e dominar o palco como poucos. O fato de ele ser o líder do grupo agrega ainda mais valor e cria expectativas maiores para o que vem pela frente. O grupo reúne rappers excelentes, vocalistas poderosos e todos dançam muito bem. Com tantos grupos debutando e vários nomes fortes concorrendo a prêmio revelação (rookie of the year), venho fazendo um exercício de colocar na balança tudo que foi lançado, turnês, impacto na indústria e valor dentro do fandom para refletir onde situo ATEEZ nessa nova leva de idols.

(reprodução/KQ Entertainment)

E o que percebo é que o grupo sintetiza essa nova geração – estamos em uma nova geração do kpop?? há controvérsias – de forma bastante efetiva. Quem acompanha kpop percebe como o sucesso de BTS influenciou as letras das músicas lançadas nesse último ano. Foi um show de love yourself, confie em você mesmo, ouça sua própria voz e honestamente, fico feliz com essa mudança, pois a qualidade das letras melhoraram consideravelmente. ATEEZ seguiu essa cartilha sem jamais perder sua essência, eles retrabalharam o conceito, aproveitaram a onda e souberam deixar sua marca nas músicas, sem forçar nada nem parecer uma cópia mal feita de outro grupo. É importante entender que ser influenciado, inspirado e comparado, não é um problema. Na maioria das vezes é o que gera interesse nas pessoas; esse idol tem um flow parecido com o rapper x, dança tão bem quanto o idol y, e assim vamos estabelecendo relações, sempre entendendo e respeitando as individualidades e como esses novos idols trazem suas próprias características para a realidade em que se encontram. Não é necessariamente uma releitura, mas sim um retrabalho, pois existe toda uma estrutura de álbuns, eras e conceitos audiovisuais envolvidos. Se eu tivesse que apresentar ATEEZ para alguém que nunca ouviu falar deles eu provavelmente diria: é um grupo que reúne o melhor da BIG BANG com o melhor de BTS, e alguns lampejos de EXO,  jamais sendo um ctrl c + ctrl v desses grupos e com talentos que se complementam de uma forma única.

Se eu me considero uma fã de BTS que escuta absolutamente tudo e gosta de muitas coisas, All to Action é o disco que eu precisava para me tornar também uma fã da ATEEZ (atinys). O álbum é o caminho natural de uma série de tesouros bem sucedidos que o grupo apresentou. Nenhum dos singles deles até então foram medianos, todos avançaram a narrativa estabelecida e Wonderland é o fechamento grandioso que se esperava de um disco completo que foi bem trabalhado desde o começo.

O MV visualmente é impecável, trazendo referências de My Chemical Romance com Welcome to The Black Parade e as icônicas escadas de Escher e sua ilusão de ótica. As bandeiras, onipresentes, todos marchando e dançando muito, Hongjoong já abrindo a música com o pé na porta e dizendo: todos os olhares sobre mim agora. E ele tem toda razão, é impossível não olhar, não prestar atenção no que está na nossa frente. As cores, transições, a crescente da música que entrega um breakdance absurdo no fim com Mingi e Yunho sendo grandes destaques, tudo não só funciona perfeitamente bem como é o empurrão que faltava para quem já estava ensaiando se tornar fã do grupo. É quase como se eu pudesse desenhar o momento que dei play no vídeo, e em seguida fui ouvir o disco, e ao final eu já não era a mesma pessoa do início. Agora eu já estava em estado de "atinyzação" (inventar palavras é um dom sim, resta aceitar).

O álbum é bom do início ao fim, sem nenhuma música desnecessária, todas funcionando bem para o que se propõe e o melhor de tudo: é um álbum para se ouvir em ordem. Em tempos de singles avulsos e mini álbuns com duas ou no máximo três músicas genuinamente boas, é ótimo sentar e ouvir um disco que faz sentido como obra completa, com início, meio e fim, uma introdução, um overture – eu poderia escrever um post só sobre Precious – e um final. E para entender o porquê de o disco fluir bem basta olhar os créditos das músicas e perceber que o grupo trabalha com a mesma equipe de produtores – tal qual BTS – em praticamente todas as músicas, com a participação dos rappers Hongjoong e Mingi que também escrevem e produzem.

A grandiosidade de Wonderland, com um refrão potente e catártico é complementada pela bem mais calma Dazzling Light, que faz um contraponto interessante, mostrando o talento da vocal line num edm-pop típico do kpop mas com um refrão bastante superior do que a média, rap line sempre bem e Jongho atingindo as notas que esperamos que ele atinja (cada dia mais convencida que ele é uma manifestação reunindo Chen com Jungkook). TELL ME WHO YOU WHO AM I? Duas músicas, dois refrões chiclete. O que pode ser melhor que isso? MIST. Confesso que não estava esperando um r&b dessa qualidade no meio do disco da ATEEZ. Até então eles nunca tinham entregado uma música nessa vertente, com essa distinção das demais canções, um flow diferente no rap, e uma produção ótima. Alias, é importante ressaltar o valor da produção e dos arranjos de todo esse disco. Nada é over, nenhuma música engole ou distorce os vocais de forma desnecessária. Tudo foi feito na medida certa.

E daí chegamos em Precious (overture) que foi o momento em que eu aceitei que havia me tornado fã do grupo. Eu sou sucker de overtures/interludes e o fato de elas remeterem a momentos importantes que já passamos com alguma música que compõe a obra. E para o meu deleite, aqui tivemos Treasure, já logo nas primeiras notas, e depois com a intro de Hongjoong. A música é uma das minhas preferidas do grupo e define essa primeira Era introdutória ao Universo ATEEZ, portanto seu valor é enorme. Depois de um interlude desses eu já tinha sido vencida pelo álbum e não imaginava que eles iriam apresentar WIN, praticamente um lead single no meio do disco. Não sei se eles irão trabalhar com essa música como single, mas deveriam. É o pop na sua melhor forma, com toques dancehall e uma batida que funciona em qualquer festa. If Without You funciona tal qual Dazzling Light no início, sendo um excelente contraponto para Win. Os rappers do grupo são sempre destaques mas a vocal line cresceu muito, nas modulações vocais, harmonizações e adlibs (nessa música os adlibs são especificamente importantes). THANK U me lembrou muito Dance like butterfly wings pois é o ponto fora da curva e parece música da McFly fazendo uma linha early 2000s, quase um emo-kpop. Sunrise e WITH U fecham o álbum de forma totalmente diferente de como começamos, quase nos dizendo "agora senta, relaxa e aproveita esse presente". Essa trajetória intensa em apenas meia hora é o que faz o disco ficar ainda mais com a gente. O começo do fim, fechamento do disco, tem a mesma sensação grandiosa de Wonderland, como se estivéssemos no fim de um filme épico. E eles nos avisaram: estão preparados e a caminho da próxima jornada. E eu não podia estar mais curiosa e feliz com a carreira que ATEEZ tem pela frente.

Sobre a autora

Camila Monteiro é jornalista e estudante de doutorado em música, mídia e fandoms. Ama cultura pop e é muito fã de Bangtan. Sua vida se divide em antes e depois que ela viu Park Jimin na sua frente.

Sobre o blog

Nesse espaço discutiremos o Universo Kpopper: fandoms, bandas, debuts, disbands, MVs, álbuns, tours, coreografias, Coréia e tudo que o K-Pop nos oferece. Entre visuals, rappers e vocalistas, ultimates e bias wrecker estabelecido(a)s, vamos refletir sobre as diferentes gerações do pop coreano, a influência na moda, beleza, cultura e como o K-pop muda a vida das pessoas.

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