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Cultura CDs: Voltando a comprar CDs por causa do K-Pop

Camila Monteiro

01/04/2019 14h16

Eu lembro perfeitamente quando comprei os primeiros CDs da minha vida, com meu próprio dinheiro – que eu ganhei vendendo bijuterias feitas de miçanga na escola da minha dinda – lá em 2001, quando eu tinha apenas 12 anos. Na verdade foram dois cds: o primeiro foi o agora clássico The Miseducation of Lauryn Hill, lançado em 1998 e o segundo foi o disco de estreia do John Mayer, Room for Squares, lançado em 2001 mesmo. Chega a ser engraçado o quão claro eu tenho esse dia na minha memória, eu lembro até da seção da Renner (!!!) que eu comprei, na cidade que nasci – Pelotas – no interior do Rio Grande do Sul. Esses foram os primeiros de muitos álbuns que eu adquiri na minha vida. Sempre tive a música como prioridade, seja de fundo enquanto eu escrevo – nesse momento estou aqui digitando e ouvindo o excelente disco novo da Billie Eilish, WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? -, discos que eu gravava no Nero com músicas que eu baixava ilegalmente no Kazaa (que demoravam horas para download e muitas vezes vinham em arquivos corrompidos) ou playlists que eu criava – e sigo criando – com cuidado para determinados momentos da vida.

Lá por 2013 eu comecei a colecionar discos, ir em feiras que aconteciam aos fins de semana em Porto Alegre, catar promoções na Cultura, ir a lojas antigas em buscas de preociosidades; virou um ótimo hobby na minha vida consumir música de outra forma. Esse hobby foi facilitado quando, em 2015, eu me mudei pra Inglaterra. Aqui a cultura vinyl, já muito mais disseminada, é bem mais em conta. Na verdade agora em 2019 eu diria que os preços infelizmente subiram – culpa do famigerado Brexit – mas de forma geral é muito mais fácil e barato encontrar discos, sejam eles novos ou antigos. Hoje em dia os supermercados britânicos vendem discos. Eu mesma já comprei alguns no Sainsburys (uma das maiores redes de supermercados daqui) e foi uma sensação esquisita pois existe todo um ritual da cultura vinyl de entrar em lojas no meio do nada com senhorzinhos que nos contam histórias de décadas passadas sobre músicos famosos que costumavam comprar lá (eu vivo no norte da Inglaterra, região riquíssima em músicos ingleses icônicos que nasceram por aqui, portanto é bem comum ver lojas que eram points desses músicos quando jovens). Porém eu me dei conta que essas experiências de compra podiam ser misturadas com acessibilidade; se eu quero o disco novo do Arcade Fire e ele está diante de mim por 15 libras, qual o problema de comprar ele em meio ao rancho da semana???

Dessa forma eu segui fazendo minha coleção de discos – hoje tenho mais de 70 – entre novos e velhos, alguns coloridos, outros edições especiais, todos com um valor sentimental, sejam comprados numa loja indie em Manchester ou Sheffield, ou num enorme Sainsburys.

O que eu não imaginava é que eu voltaria a consumir CDs nessa altura da minha vida. Os discos, eles têm um ritual, eles fazem sentido como hobby, agora CD??? Quem compra CDs em 2019? A resposta é (além de pessoas old school, pois certeza que eles ainda consomem): fãs de grupos de K-Pop. Ninguém cria discos esteticamente bonitos, com features interessantes o suficiente para a gente se interessar em jogar nosso dinheiro neles, do que as empresas sul-coreanas. Primeiro que todo mundo que compra discos de k-pop sabe que o CD em si é um acessório, mesmo porque nossos grupos precisam de streamings para vender e se popularizar, então o disco que vem dentro é, honestamente, o que menos nos interessa. Apesar de que vale lembrar, a qualidade do áudio nos discos é superior as dos streamings, principalmente ao Spotify. É nítida a diferença, e por vezes irritante. De qualquer forma, quando compramos discos de k-pop temos algumas características peculiares que são valiosíssimas: a primeira delas é o photocard. Todo álbum vem com um photocard com um dos integrantes do grupo. E ele é, obviamente, colecionável. Se você andar na rua e prestar atenção nos celulares alheios existe grande chance de encontrar photocards de grupos de k-pop abrilhantando a capa dos aparelhos. Trocar photocards é uma atividade comum nos fandoms. Além do photocard, os discos vêm com um livro de fotos conceito que definem a era daquele álbum. BTS por exemplo lança diversas versões do álbum, cada uma delas com fotos conceito diferentes, e juntas essas versões formam o nome do disco (ex: versão L, O, V, E, juntas formam LOVE e ficam belíssimas na estante pegando pó. É a vitória do capitalismo que a gente nem se importa em perder). Por fim, os discos geralmente possuem brindes, sejam eles notas escritas pelos idols, adesivos ou mais fotos. Fora isso "ganhamos de brinde" um pôster, e dependendo de onde compramos, alguns outros brindes como mini espelhos, pulseiras e photocards de eras anteriores.

Com a volta de BTS dia 12 de abril e o throwback de Persona, voltando ao Skool Luv Affair, eu resolvi comprar o disco de 2014 que eu ainda não tinha. Abaixo seguem algumas fotos ilustrando o que comentei:

O livro dentro de Skool Luv Affair é colado ao resto do disco, o que eu considero um erro, mas felizmente a Big Hit mudou isso pois os discos mais novos de Bangtan não são mais assim.

Acima temos o livro com as fotos, um photocard (com formato diferente) e adesivos (que agora eu VOU USAR pois sou velha o suficiente pra saber que se não usar agora jamais usarei).

Os cds "normais" são vendidos por 10 libras (50 reais, metade do preço) aqui e os de K-Pop custam em média 19-24 libras, o que é em média 100 reais, e custam o mesmo valor dos discos/vinyl que eu coleciono. No Brasil os valores costumam ser ainda mais elevados por motivos de taxas e lucro mesmo. Mesmo com preços mais altos, por serem mais atrativos, os CDs de k-pop possuem vendas acima da média. O novo disco de BTS, Map of The Soul: Persona, nem saiu e já vendeu mais de 2.8 milhões de cópias em pré-venda. Nesse momento eu me pergunto, estaria o CD mesmo morto???? 

(reprodução/pinterest)

Sobre a autora

Camila Monteiro é jornalista e estudante de doutorado em música, mídia e fandoms. Ama cultura pop e é muito fã de Bangtan. Sua vida se divide em antes e depois que ela viu Park Jimin na sua frente.

Sobre o blog

Nesse espaço discutiremos o Universo Kpopper: fandoms, bandas, debuts, disbands, MVs, álbuns, tours, coreografias, Coréia e tudo que o K-Pop nos oferece. Entre visuals, rappers e vocalistas, ultimates e bias wrecker estabelecido(a)s, vamos refletir sobre as diferentes gerações do pop coreano, a influência na moda, beleza, cultura e como o K-pop muda a vida das pessoas.

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